A retórica de Aristóteles

Para o filósofo grego Aristóteles, a capacidade de convencimento impressa por um falante dependia de alguns fatores. Esses fatores inicialmente foram estabelecidos como 3, mas aqui discutimos eles como 5: Ethos, Kairos, Logos, Pathos e Telos. Imaginamos aqui cada um desses fatores, por motivos didáticos, como uma estrela, cada estrela parte da constelação de Rhetorike.

Constelação Rethorike: as 5 funções retóricas de Aristóteles (ilustração nossa)

A primeira estrela, Ethos, é a presença do autor como notório, com credibilidade. Um político, por vezes, vai se colocar como importante figura em seu campo ideológico apontando qualificações como "ex-militar", logo posso falar sobre segurança pública, ou "professor de universidade pública" logo sou qualificado para falar de educação. É muito comum, por exemplo, o dizer "você me conhece e sabe que ..." para apelar para uma noção de credibilidade que o leitor/ouvinte atribuiria ao falante, mesmo que essa não seja a realidade.

Kairos, a segunda estrela, é o lugar e o momento. Bastante variável, este fator aparece em situações como as que algo que se foi dito há 10 anos atrás pode soar estranho e até errado nos dias de hoje. Além disso, um pedagogo em sala de aula diz "a importância de manter as crianças longe das telas é clara e não expira muitas discordâncias nos dias de hoje" mas para seu filho diz "sai desse celular e vai brincar com seus primos".

Em seguida, Logos é a estrela da lógica. Figuras de autoridade dentro de uma família apelam regularmente para a lógica (Logos) quando escolhem "faça sua lição de casa para que você possa jogar videogame". Para o ouvinte/leitor parece lógico que terminar a lição de casa o quanto antes vai lhe fazer ter acesso ao seu tão aguardado entretenimento.

Pathos é a carga emocional que um falante traz, sendo esta a quarta estrela. O discurso de ódio das redes sociais frequentemente apela as emoções para manipular o entendimento de uma situação. A  sessão  de comentários de todas as redes sociais mais populares, como facebook, instagram, twitter etc, apresentam notícias que se enchem de comentários altamente apelativos. Foi notícia que uma advogada afirmou "adora crime passional"¹, e um dos comentários com 78 curtidas foi "Apologia a violência contra a mulher. Kd as feminista para ir pra cima?"¹ (sic). O comentarista, neste caso, tenta, por meio de um comentário irônico, afirmar que as feministas não iriam criticar a advogada por ela ser mulher.

A estrela final da constelação é Telos, que é o propósito do falante. Muito se fala em "propósito por trás" do que o falante diz, mas devemos sempre pensar que o "propósito por trás" é na verdade o único propósito existente. Entendemos que o propósito "pela frente" não tem função de propósito mas é apenas visual, uma maquiagem, um meio e não o fim. Quando um namorado(a) diz para seu parceiro(a) "eu jamais vou te trair" o propósito dele(a) não está implícito na língua por ela mesma. Pode esse propósito tanto ser convencer como enganar ou então tranquilizar. Independente do propósito, não coexistem "real" e "falso". O "falso propósito" é uma interpretação do ouvinte/leitor e não o propósito do falante.

Por fim, é importante lembrar que um constelação não existe sem todas suas estrelas, isto é, uma fala tem, em maior ou menor grau, a presenta desses 5 fatores. Vejamos o exemplo inicial "você me conhece e sabe que ...". Independentemente do enunciado, o Ethos afeta a credibilidade. Não basta afirmarem que conhecem o ouvinte/leitor para convencê-lo de que aquilo é verdade, eu realmente preciso reafirmar as intenções do enunciador dando ou não confiança. Se o enunciador fala na televisão afeta o ouvinte bem menos do que ele falar em uma reunião política frente-a-frente, e se ele estiver falando de um conteúdo do qual não sou empático, a fala provavelmente não vai surtir efeito desejado. Além disso, se o autor estiver tentando me enganar ou apenas me convencer honestamente vai afetar ainda mais o resultado da conversa.

É claro, então, que esses fatores retórico trabalhar em conjunto e afetam nosso dia-a-dia, logo, entendê-los é de extrema importância e nos ajuda a ver com mais clareza os enunciados que nos afetam.

Esta postagem conta com as seguintes fontes (links externos):

1 - Cidade Verde
2 - Retórica: Éthos, Pathos e Logos | Aristóteles
3 - Aristotle's Rhetorical Situation
4 - The Rhetorical Triangle: Understanding and Using Logos, Ethos, and Pathos